MICROBIOTA INTESTINAL COMO NOVO ALVO TERAPÊUTICO NA CARDIOLOGIA
DOI:
https://doi.org/10.47879/ed.ep.2025936p281Palavras-chave:
Microbioma intestinal, Doenças cardiovasculares, Trimetilamina-N-óxido, Disbiose, Ácidos graxos voláteisResumo
O microbioma intestinal tem emergido como um fator relevante na fisiopatologia das doenças cardiovasculares (DCVs), ampliando a compreensão dos mecanismos envolvidos além dos fatores de risco tradicionais. Composto por trilhões de microrganismos, o microbioma atua em funções metabólicas, imunológicas e inflamatórias que afetam diretamente a saúde cardiovascular. Evidências recentes mostram que alterações na composição e diversidade da microbiota intestinal — condição conhecida como disbiose — estão associadas ao desenvolvimento de hipertensão arterial, aterosclerose, insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana. Um dos principais mecanismos implicados é a produção de metabólitos bacterianos, como a trimetilamina-N-óxido (TMAO), resultante do metabolismo hepático da trimetilamina (TMA), sintetizada pelas bactérias a partir de colina, L-carnitina e fosfatidilcolina. Altos níveis circulantes de TMAO têm sido associados a maior risco cardiovascular, promovendo inflamação vascular, disfunção endotelial, estresse oxidativo e aumento da agregação plaquetária. Além disso, o microbioma influencia a pressão arterial por meio da produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), como o butirato, propionato e acetato, que atuam em receptores específicos modulando o tônus vascular e a resposta imune. A disbiose também pode comprometer a barreira intestinal, favorecendo a translocação bacteriana e o aumento da inflamação sistêmica, outro fator de risco importante para DCVs. Intervenções terapêuticas visando a modulação do microbioma intestinal — incluindo dieta, prebióticos, probióticos, simbióticos e transplante de microbiota fecal — vêm sendo investigadas como estratégias coadjuvantes na prevenção e manejo das DCVs. Dietas ricas em fibras, como a mediterrânea, têm demonstrado impacto positivo na composição microbiana e nos desfechos cardiovasculares. Dessa forma, o eixo intestino-coração representa uma fronteira promissora na cardiologia preventiva e personalizada. A incorporação do conhecimento sobre o microbioma intestinal na prática clínica pode contribuir para uma abordagem mais abrangente e eficaz no tratamento dos pacientes com risco cardiovascular elevado.

